NA CAMA....COM MESTRE M.

Written By Mestre M on 17/01/2018 | 18:49





"Não fazia calor naquela tarde. Ainda sob uma luz dócil de outono, eu caminhava pela beira-mar sem pressa. Havia saído com bastante antecedência, e mesmo sabendo que chegaria antes da hora marcada, não tinha planos de antecipar nosso encontro.
Foram muitos anos de conversa desde quando nos apresentamos e, de alguma maneira, surgiu um interesse discreto, mas determinado. Eu não seria capaz de antecipar nem um minuto, e usava o tempo extra para pensar nas minhas escolhas, e no quanto representava para mim cada passo que eu andava naquela direção. Ainda estava a sós àquele momento.
Cheguei pontualmente na hora marcada, e fui tomado por uma sensação de intimidade, como se há muito tempo frequentasse aquele lugar. Fui privado da visão logo ao chegar, e eu parecia saber disso: meus olhos mantinham-se fechados naturalmente. A privação da visão amplificava os demais sentidos e tudo parecia tocar-me mais a fundo. Senti-me vulnerável, mas não ameaçado. Entregue, mas não suicida.
Seu interesse pelo meu corpo era a chave para as descobertas que se iniciavam ali. Eu não sabia aonde ir, o que fazer, o que sentir... era um ato voluntário de entrega, e ele tinha uma clareza muito grande disso.
Através do meu corpo ele alcançou a minha dor, e na minha dor nós dois nos encontramos em festa. Ele me açoitava e eu me contorcia, dor e prazer ocupavam juntos todos os espaços daquele primeiro encontro, em silêncio.
Pouco conversamos. Não por falta de afinidades, mas porque muito já havia sido dito e sobretudo porque sabíamos o quanto o silêncio nos permitia realçar os sentidos mais profundos naquela hora. Ele, metódico. Eu, pontual. Assim repetiríamos mais dois dias o nosso encontro, no mesmo local e mais ou menos no mesmo horário, mas com conteúdos diferentes.
Estávamos unidos por um laço. Era mais um estreito nó que um laço frouxo. E o calor dele me incendiava. Ele cantou e sua voz o agigantava. Juntos, parecíamos, leves, a flutuar.
O encontro entre Dominador e submisso estava configurado. Levamos o bdsm de nós dois a circular entre bares, ruas, parques e amigos. Era preciso levar para a vida lá fora, sem desperdiçar minuto sequer, tudo o que havíamos construído para nós.
Foi difícil entrar num carro e perdê-lo de vista numa esquina virada à esquerda. A liberdade parecia estar ali, entre nós, na entrega. Assim como o prazer estava ali, na minha dor, explorada e exposta sem cerimônia, entre garrafas vazias e sentimentos transbordados. Foi um encontro, mas poderia ter sido uma apneia: mergulho fundo, muito profundo, mas com hora marcada para voltar à tona.
A maior dor, dentre todas, foi despertar a sós na manhã seguinte. Inerte na cama, por longos minutos desejei que não fosse verdade o voo que me levaria para longe dali. Eu queria prolongar aquele momento, levar comigo o bom da dor. Tantos anos de desejos a afinidades revelados como a fazer planos, não mereciam terminar ali. Não me parecia justo um fim tão próximo do começo. Nada parecia mais justo que um longo meio entre o princípio e o fim.
E eu quero acreditar que o afastamento inevitável seja o meio, porque eu sempre me recuso ao fim precoce do que me faz bem.
Há situações que ficam para sempre, há portas que jamais se fecham, há dias em que ganhamos uma vida inteira. Estou, agora, mais livre. E por isso mais seu.
Só quem é livre pode entregar-se, meu amigo, meu algoz, meu Senhor."













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FORTE ABRAÇO.

MESTRE M

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